O Brasil é o sétimo produtor mundial de pneus para automóveis. Foto: Getty Images
Sétimo produtor mundial na categoria pneus de automóveis e o quinto nos modelos para caminhões, o Brasil vendeu mais de 53,8 milhões de unidades (reposição e equipamentos originais) somente em 2022, de acordo com o último Relatório de Sustentabilidade da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (Anip), do mesmo ano.
Mais que comemorar vendas, as fabricantes nacionais destinaram de forma ambientalmente correta em 2020 mais de 380 mil toneladas de pneus inservíveis — no ano anterior, foram 471 mil toneladas, número recorde que faz parte do Relatório de Pneumáticos, do Ibama. “Mesmo com a pandemia, nossas operações não pararam”, explica Klaus Curt Müller, presidente da Anip e da Reciclanip, entidade sem fins lucrativos cujo foco é a correta destinação desses equipamentos no final de sua vida útil (inservível), evitando que esses resíduos sejam descartados na natureza. Por meio dela, mensalmente a indústria envia seus pneus inservíveis, recolhidos em todo o território nacional.
A Reciclanip, assim como as fabricantes, teve que se adaptar a todas as fases da pandemia. De acordo com Müller, foi com amplo sucesso, mas também com elevados custos. “Estamos totalmente ligados a uma indústria que não pode parar. Todos os esforços desse segmento se refletiram automaticamente para cumprir a missão que temos com o meio ambiente do País.”
Desde o início da operação, em 1999, com o Programa Nacional e Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis, da Anip, a indústria nacional investiu mais de R$ 1,6 bilhão e, até 2020, as fabricantes nacionais destinaram mais de 5,5 milhões de toneladas de inservíveis (equivalente a 1,1 bilhão de unidades para carros de passeio).
Extensão territorial e infraestrutura são desafios
De acordo com o presidente, os obstáculos da logística reversa no Brasil são enormes quando comparados com países europeus. “Com área territorial de mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, temos que operar em uma área territorial 56% superior à soma de alguns desses: França, Itália, Polônia, Turquia, Espanha, Suécia, Holanda, Portugal, Reino Unido e Alemanha, por exemplo, que reúnem pouco mais de 3,7 milhões de quilômetros quadrados”, explica. “Ainda temos que transpor desafios como a qualidade de infraestrutura rodoviária na 116º posição entre 141 países no ranking do Relatório de Competitividade Global, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, em 2019.”
Tecnologia a favor
Müller observa ainda que, mesmo com esse ambiente desafiador, a Reciclanip é uma referência mundial em logística reversa de pneus inservíveis. “Enfrentamos todos os desafios operacionais dos últimos dois anos graças a uma gestão profissional e totalmente digitalizada: hoje podemos operar de forma 100% remota por qualquer período de tempo necessário. “Nesse período de pandemia, o resíduo permaneceu na rota de maturação em busca da sustentabilidade, processo fundamental para o meio ambiente, somente possível porque não paramos de operar e ainda avançamos na rota do pneu inservível.”
Desde janeiro de 2019, a Reciclanip disponiliza um aplicativo para os municípios ou pontos privados requisitarem a coleta, com todas as práticas em gestão Enterprise Resource Planning (ERP). Em breve, a entidade planeja novos investimentos, incluindo uma inovadora forma de operação sobre a forma da meta, ainda em análise, com o objetivo de ampliar ainda mais a cobertura geográfica a nível nacional. “Depois de passos importantes na gestão, na eficiência e na maturação do pneu inservível, estamos agora diante de um novo patamar operacional e de mercado, com o surgimento de outras formas de operar e de regular essa atividade”, finaliza o presidente.
O destino dos pneus inservíveis
• 57% (223,7 mil toneladas): utilizados como combustível alternativo em fornos de cimenteiras, em substituição ao coque verde de petróleo, devido ao seu alto poder calorífico.
• 8% (34,9 mil toneladas): destinados às siderúrgicas. Todo aço retirado durante os processos de trituração é reencaminhado para as siderúrgicas.
• 13% (36,2 mil toneladas): para produtos laminados. Nesse processo, os pneus não-radiais são cortados em lâminas que servem para a fabricação de percintas (indústrias moveleiras), solas de calçados, dutos de águas pluviais etc.
• 22% (84,4 mil toneladas): a borracha retirada é utilizada em asfalto borracha, tapetes para automóveis, pisos industriais e pisos para quadras poliesportivas.
Fonte: Reciclanip
Os números da reciclagem de pneus no Brasil
A Reciclanip atua nas 27 unidades federativas do Brasil, sendo que o Distrito Federal e Paraná possuem com pontos de coleta que abrangem 100% de suas populações. Na sequência, temos São Paulo, com 94%; Rio de Janeiro, com 93%; Mato Grosso do Sul, com 92% e Goiás, com 86%. “Em breve, apresentaremos uma proposta ao Ministério do Meio Ambiente visando o aumento de municípios monitorados e, consequentemente, atendidos”, adianta Müller. Apesar de estabilizar em mais de 1.053 pontos de coleta, a entidade está presente em 1.400 municípios, com uma abrangência geográfica muito superior aos 326 municípios com mais de 100 mil habitantes exigidos pela resolução Conama 416. Atualmente, cerca de 40 empresas parceiras fazem a coleta dos pneus inservíveis.
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