Fonte: Valor Econômico
09/05/2022
Foto: Divulgação/Valor
O Brasil, apesar de ter aumentado a produção de petróleo nos últimos anos, ainda tem capacidade de refino abaixo da demanda doméstica, o que torna o país dependente da importação de derivados do óleo bruto. Entre eles, o óleo diesel, estratégico para o transporte de mercadorias e pessoas no país.
O avanço dos preços de combustíveis importados reflete as altas cotações do petróleo em razão da guerra Rússia-Ucrânia e seu efeito na inflação foi em parte atenuado pela valorização do real frente ao dólar nos primeiros meses do ano.
A depreciação cambial mais recente, porém, aumentou a preocupação sobre a defasagem de preços praticada pela Petrobras, que está há 56 dias sem reajustar diesel e gasolina no Brasil. Importadores já começam a fazer pressão por reajustes apontando risco de desabastecimento no mercado doméstico.
Reajustes de preços de combustíveis impactam rapidamente o bolso do consumidor. O último reajuste de preços de combustíveis nas refinarias, válido desde 11 de março, foi captado pela prévia da inflação de abril. Segundo dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a gasolina, que subiu 7,51%, exerceu a principal influência individual sobre o indicador e o grupo de transportes, cuja alta acelerou de 0,68% para 3,43% gerou a maior pressão entre as classes de despesas. Os combustíveis já vinham apresentado alta de preços na importação, o que fez essa categoria avançar entre os importações totais. De janeiro a abril, foram importados US$ 12,8 bilhões em combustíveis e lubrificantes, segundo dados da Secex. O valor é praticamente o dobro dos US$ 6,5 bilhões desembarcados em iguais meses do ano passado. A alta fez os combustíveis avançarem de 10,2% no ano passado para 15,8% das compras externas em 2022, considerando o primeiro quadrimestre. Já a importação de fertilizantes e adubos surpreendeu em abril e foi considerada atípica. O desembarque dos insumos agrícolas também cresceu principalmente pelos preços, que saltaram 130,7% em abril contra igual mês de 2021. A quantidade comprada do exterior aumentou em 81,5%.
Ontem, ao divulgar os dados da balança comercial do mês, o subsecretário de Inteligência e Estatísticas de Comércio Exterior da Secex, Herlon Brandão, explicou que, de acordo com levantamento do órgão, os produtores agrícolas anteciparam a aquisição desses insumos, provavelmente por receio de desabastecimento, mais uma vez sob influência da guerra no leste europeu, considerando que a Rússia é importante fornecedora global de fertilizantes. O usual, explicou ele, é a importação desses insumos aumentar no segundo semestre do ano.
A guerra também aumentou os preços de fertilizantes e defensivos, que já estavam relativamente altos antes da eclosão do conflito. O aumento eleva custos de produção, o que também traz nova pressão para os preços de alimentos. Parte dessa pressão já veio como efeito da guerra via alta das cotações de grãos dos quais Rússia e Ucrânia são fornecedores importantes, como trigo e cereais. O nível de repasse de preços que impacta o consumidor irá depender de quanto produtores e comerciantes conseguem absorver do aumento de custo e do quanto a demanda torna possível repassar aos preços.
Os alimentos também já vêm sofrendo alta de preços visível para quem vai à feira ou ao supermercado. No IPCA-15 de abril, a alta nos alimentos e bebidas foi de 2,25%, com aceleração contra 1,95% em março. O índice cheio avançou 1,73% em abril, vindo de 0,95% em março. O indicador, que teve dados coletados de 17 de março a 13 de abril, mostrou inflação abaixo da esperada pelo mercado, mas ainda assim foi a maior alta para abril desde 1995 (1,95%) e a maior variação mensal desde fevereiro de 2003 (2,19%).
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