Fonte: Diário do Comércio
31/01/2022

Embora o índice de inflação brasileiro tenha encerrado 2021 apontando alta de 10,06%, o transporte rodoviário de cargas enfrenta um aumento de 18% no preço dos insumos com cargas fracionadas. Segundo levantamento da Associação Nacional de Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), houve elevação generalizada nos preços das matérias-primas no decorrer do ano passado, especialmente do óleo diesel.
Vale dizer que os custos da atividade estão concentrados em três principais insumos: combustível, mão de obra e veículo (caminhões e implementos). Esses fatores representam 90% dos custos operacionais e entre 60% e 80% do faturamento de uma transportadora.
“Tudo subiu muito. O que menos teve variação nos preços foi a mão de obra – em torno de 10%. Ainda assim, as empresas estão tendo que aumentar os salários para reter os funcionários diante do assédio da concorrência. O combustível já subiu cerca de 50% com o último reajuste anunciado pela Petrobras, alguns modelos de caminhões aumentaram quase 40%, os pneus, 30%, e a manutenção, 25%“, detalhou o assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdivia.
Valdivia destacou o desafio para o transporte rodoviário de cargas, que, assim como setores de saúde, segurança pública e alimentício, também não pôde parar durante os momentos críticos da pandemia e teve que continuar trabalhando com 40% a menos de carga e custos em ascensão.
“Mesmo com uma menor demanda, mantiveram-se os custos fixos, cumprimento de prazos, o custo do retorno vazio, aumento da inadimplência e o esgotamento da capacidade dos terminais, gerando descompasso no fluxo de caixa. Com isso, a margem, que já não é muito alta (entre 10% e 15%), acabou ficando ainda menor”, explicou.
Para se ter uma ideia, estudo produzido pela Coordenação da Câmara Técnica de Carga Fracionada (CTF) da NTC&Logística indicou que mais de 90% das empresas de carga fracionada foram afetadas negativamente pela crise. “Mas, mesmo com as dificuldades que o setor passou, ele não deixou de abastecer os hospitais, as farmácias, os postos de combustíveis, as indústrias, os supermercados, as lojas de peças, o agronegócio e o mercado de e-commerce” , ressaltou.
Porém, o assessor técnico disse que esse esforço deixará sequelas para o setor, inclusive no que diz respeito à defasagem do frete e à diminuição da capacidade de investimento das empresas. É que os 18% se referem apenas à inflação da atividade e não interferem na defasagem do frete que ainda persiste e se agravou durante a pandemia, em 2020, vide o Índice Nacional de Custos do Transporte de Cargas Fracionadas (INCT-F) acumulado, em 24 meses, de 16,14%, afetando duramente as margens e a capacidade de manter seus compromissos e investimentos.
“As empresas não conseguem mais absorver, têm que repassar. Algumas já começaram a negociar. A questão é que tem que haver previsibilidade. Como funciona hoje, enquanto a transportadora está negociando um repasse, o fornecedor já anuncia outro reajuste e desequilibra os custos novamente”, explicou.
E depois de um ano de tantos reajustes, a expectativa para 2022 é de que haja acomodação – principalmente considerando a base forte deixada pelo ano anterior. Nos preços dos caminhões, por exemplo, veículos que saltaram de R$ 280 mil para R$ 540 mil não têm como aumentar mais. “Tem modelo que ultrapassa R$ 1 milhão”, contou.