Para driblar o alto preço do combustível, que chega a 60% dos gastos com frete, companhias também fazem monitoramento a distância e adotam novas tecnologias. Start-ups têm soluções
Fonte: O Globo
22/07/2022
Foto: Roberto Moreyra/Agência O Globo
O preço do diesel, que chega a representar 60% dos custos de frete, está levando empresas a revisarem suas estratégias de logística para minimizar os impactos no caixa. Do agrupamento de rotas de entrega à melhor ocupação dos caminhões, passando pelo monitoramento dos veículos, muitas companhias vêm lançando mão de planejamento e tecnologia para enfrentar o aumento do combustível.
Nos últimos 12 meses, o diesel teve alta de 56,36%, segundo o IBGE. Somente neste ano, o aumento foi de 33,39%.
A Nestlé reforçou o investimento em ferramentas de gestão de transporte. Por meio de algoritmos que otimizam os percursos e o carregamento dos veículos, consegue aumentar em 3%, em média, a ocupação dos caminhões, o que representa 12 mil viagens a menos por ano.
A roteirização também foi a solução adotada pela Plena Alimentos, do segmento de proteína bovina, para realizar cerca de 600 entregas diárias em 20 caminhões na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Por meio de um software da empresa de tecnologia Lincros, é possível concentrar as entregas em determinados dias e rotas de distribuição, dentro da grade de horário que os clientes podem receber.
— Nossa estratégia é concentrar o atendimento, estabelecer dias padronizados por rotas — afirma o gerente de logística da Plena, Anderson Alves Gomes.
Na Dimensional Engenharia, o custo com combustível corresponde a 35% da logística. A empresa começou a fazer o monitoramento para verificar a emissão de carbono e viu no sistema de acompanhamento um aliado para reduzir também o consumo de diesel da frota de 300 veículos.
A economia varia em torno de 5% ao mês. Vinicius Benevides, diretor operacional, explica que se trata de uma telemetria, que envia informações on-line, mostrando, por exemplo, se o veículo está andando ou parado ou se o motorista acelerou muito, o que impacta o consumo de combustível.
A rede de farmácias Pague Menos — que hoje compromete 40% dos custos de frete com o diesel — está negociando soluções com as transportadoras.
— As transportadoras pediram um reajuste, que ainda está em negociação. Enquanto não finalizamos, aquelas que têm frota dedicada à Pague Menos pediram para transportar outras mercadorias, para ocupar o espaço vago nas carretas— conta Raíssa Lemine, coordenadora de Frete do grupo.
Manutenção em dia
Segundo ela, a L’auto Cargo, uma das contratadas da rede, adotou ainda treinamento de motoristas para direção econômica, incentivo com bonificação para quem bater meta de rendimento, instalação de sondas para detecção de perdas e desvios e negociação com os postos, entre outras medidas.
A Cargosoft Serviços Logísticos, que também atende a Pague Menos, além de premiar motoristas e limitar a velocidade a 80km/h, conta com seis bases com tanque próprio para abastecer.
Anderson Benetti, da Sênior Sistemas, de gestão de pessoas e softwares para logística, lembra que a manutenção pode representar de 15% a 18% de redução de custo de combustível por mês em um caminhão. E destaca a importância de monitorar os veículos:
— É possível receber dados como acelerações e freadas desnecessárias, além de excesso de peso no veículo.
No caso da Cargoblue — que tem 40 caminhões e presta serviço para o e-commerce —, o combustível corresponde a 60% da despesa com frete. Uma das soluções para reduzir os gastos foi usar o aplicativo Gasola, que faz negociação direta com os postos e oferece descontos no litro do combustível.
De acordo com o dono Rodolfo Gonzalez, a economia é em torno de 5% ao mês, o que significa cerca de 14 mil quilômetros:
— Dá para atravessar o país umas três vezes. São três fretes de Fortaleza a Porto Alegre.
Outras fontes
Além das alternativas para reduzir o consumo de diesel, as empresas também estão atentas a outras fontes de combustível. Na Nestlé, desde 2021, mais de 1,7 mil veículos passaram a ser abastecidos somente com etanol. E desde 2020 entraram na frota veículos elétricos ou movidos a GNV ou biocombustíveis de fontes renováveis, como o biometano.
— Temos a meta de, até o fim de 2022, ter mais de cem veículos desse tipo transportando nossos produtos — diz Marcelo Nascimento, VP de Supply Chain da Nestlé no Brasil.
A distribuidora de combustíveis Vibra (ex-BR Distribuidora) começou em julho a operação de entrega de gasolina, etanol e diesel com um caminhão convertido para GNV. Cálculos preliminares da companhia apontam que a economia financeira com a operação chega a 10%, na comparação com um veículo tradicional.
— Discutimos a possibilidade (de conversão) com as cerca de 50 transportadoras contratadas e os feedbacks têm sido bem positivos. Na próxima semana já teremos mais um caminhão a gás entrando em operação — afirma Aurélio Souza, diretor de planejamento logístico da Vibra.
A transportadora Jomed, que atua com rotas entre São Paulo, Curitiba e Rio, comprou nove caminhões 100% a gás há dois anos, o que representa 5% da frota da transportadora. Cada veículo carrega oito cilindros com 25 metros cúbicos de capacidade, o que pode garantir que um caminhão com 20 toneladas de carga, por exemplo, percorra até 550 km.
A economia, na comparação com um caminhão a diesel pode chegar a 17%, no caso do GNV, é até 20%, se o veículo for a biometano.
A transportadora Rodofly converteu dez caminhões de sua frota de 160 veículos para o GNV, numa parceria com a 4 Rodas GNV.
— O diesel está nas alturas. Pelos cálculos que fazemos, é vantagem usar o gás natural tanto para carro pequeno quanto para caminhões — comenta o dono da 4 Rodas GNV, Deivid Araújo.
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