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Ferrovia Norte-Sul: veja detalhes da construção de 2,2 mil km que custou mais de R$ 11 bilhões

Obra ficou marcada pelas mudanças no projeto e denúncias de desvio de verba. Ferrovia corta quatro regiões do país e liga portos de Itaqui (MA) a Santos (SP).

Por Vitor Santana, g1 Goiás

04/10/2023 04h01 Atualizado há uma hora

Ferrovia Norte-Sul, Goiás — Foto: Wesley Costa/O Popular


A Ferrovia Norte-Sul tem 2,2 mil km, demorou quase 40 anos para ser finalizada e custou mais de R$ 11 bilhões. Durante esse período, foram identificados desvios milionários de verbas. Após a conclusão, a ferrovia recebeu sua primeira viagem completa na última semana. Projeções da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontam que 22,7 milhões de toneladas de carga devem passar pelos trilhos até 2055.

Com a conclusão do trecho goiano, a ferrovia agora liga quatro regiões do país, passando por cinco estados, ligando os portos de Itaqui (MA) a Santos (SP). “É uma ferrovia que basicamente foi construída com recursos públicos, 90% da obra. Mas houve concessões e subconcessões nesse período para permitir a conclusão da obra”, disse o secretário Nacional de Transporte Ferroviário Leonardo Ribeiro.

No trecho norte, a VLI é a administradora. No tramo central e sul, a empresa Rumo é a responsável.


Valor total

O secretário apontou que o valor total da obra é difícil de ser precisado. O trecho entre Porto Nacional (TO) e Estrela D’Oeste (SP) custou R$ 11 bilhões. Já o ramal sul, entre Porto Nacional e Açailândia (MA) sofreu com trocas de moeda no período e crise inflacionária, o que torna impreciso a estimativa do valor investido.


Desvios de dinheiro

Durante o período de construção, o Ministério Público Federal identificou desvios de dinheiro público. A Procuradoria da República em Goiás informou que existem investigações sobre desvios de verbas na ferrovia nos estados de Goiás, Maranhão, Tocantins e São Paulo.

Um dos casos foi o do ex-presidente da Valec, Juquinha das Neves, que foi condenado em 2017 por lavagem de dinheiro. Na época, o MPF afirmou que o rombo nos cofres públicos entre 2006 e 2011, período em que Juquinha comandou a Valec, foi, somente em Goiás, de cerca de R$ 630 milhões.

A defesa de Juquinha informou que a sentença de condenação foi cassada e que o ex-presidente "foi absolvido em mais de uma dezena de processos". "A ferrovia foi entregue e o preço foi justo, sem superfaturmento", completou a defesa.

O g1 entrou em contato com a Procuradoria-Geral da República para saber o montante desviado identificado pelas investigações e quantas pessoas já foram investigadas e julgadas, mas não teve retorno até a última publicação dessa reportagem.


Histórico

A ferrovia começou a ser construída em 1987. Na época, a obra era administrada pela Valec, empresa pública que era vinculada ao Ministério da Infraestrutura. Atualmente, a Valec foi fundida a outra estatal, dando origem à Infra S.A.

Inicialmente, o projeto tinha 1,5 mil km e ligava Açailândia (MA) a Anápolis, a 55 km de Goiânia. Porém, depois, o projeto foi ampliado e a ferrovia seguiria até Estrela D’Oeste (SP).

Em 2007, o primeiro trecho, entre Açailândia e Porto Nacional (TO) foi concluído e passou a operar sob concessão a uma empresa privada de logística. São cerca de 720 km de trilhos

Em 2019, o trecho que sai do Tocantins e vai até São Paulo, passando por Goiás e Minas Gerais, foi passado para a empresa Rumo, que concluiu as obras. Ao todo, são 1.537 km de ferrovia.


Vantagens

A expectativa do Governo Federal é que, com a conclusão da obra, haja um crescimento na produção agrícola do país para exportação, além de um desenvolvimento das cidades próximas à ferrovia. Além disso, há um impacto na segurança de rodovias e qualidade ambiental.

“No modelo ferroviário, a grande vantagem é transportar uma grande quantidade de carga por uma grande distância. Um trem com 100 vagões substitui 357 caminhões. Ou seja, é uma operação muito eficiente do ponto de vista econômico e ambiental”, afirmou o secretário de Transporte Ferroviário. Realidade

O maquinista Wodson Baltazar Silva, de 33 anos, não era nascido quando as obras começaram. Ele foi o responsável por fazer a primeira viagem após a conclusão da ferrovia.

“Estou muito feliz de ser o primeiro aqui nessa inauguração que é esperada por todo mundo”, disse.

Moradores que vivem próximos à linha do trem se surpreendem com a passagem dos vagões após anos de obras. A dona de casa Elvia Antunes foi para a rua tirar fotos. “Registrar, porque a gente nunca tinha visto. Isso é uma maravilha para Santa Helena de Goiás”, contou.

Primeira viagem

A primeira viagem feita foi em caráter de comissionamento, o que significa que a locomotiva segue em uma velocidade reduzida. Uma composição com 112 contêineres saiu de Cubatão, em São Paulo, e seguiu até Anápolis. A carga era de defensivos agrícolas, algodão e peças importadas para a fabricação de carros.


“É muito simbólica a passagem do primeiro trem sobre esses trilhos. Promove uma integração do país com fluxos nos dois sentidos, tanto da cadeia agropecuária como da cadeia industrial, mas também conecta o interior do Brasil ao mundo, uma vez que ele liga o interior do Brasil, o Centro-Oeste, aos principais portos do país”, disse o vice-presidente de regulação e expansão da Rumo, Guilherme Penin.

A carga foi levada até o Porto Seco de Anápolis, que passou por uma adaptação para abrigar o terminal de contêineres.

“São muitos anos de espera, e essa expectativa está relacionada a investimentos que foram feitos já há muito tempo, tanto pelo Porto Seco quanto pela própria ferrovia. E há uma expectativa muito grande do usuário, de quem precisa de transporte aqui na região”, afirmou Everaldo Fiatkoski, diretor de operações do Porto Seco de Anápolis.

O transporte ferroviário deve gerar também um impacto ecológico. Uma locomotiva com 80 vagões pode substituir 170 carretas e fazer viagens mais longas.

“A nova operação desse novo corredor vai dar a oportunidade de reduzir nos próximos cinco anos uma coisa como 160 mil toneladas de CO2. Então, se você considerar que muitas dessas empresas hoje estão buscando uma solução mais limpa, sustentável, além dos benefícios diretos em relação à segurança e custos, a gente tem um benefício muito grande para o meio ambiente”, concluiu Daniel Salcedo, diretor comercial da Brado, empresa de logística que opera no trecho.


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