Fonte: Jornal Opção
02/03/2022
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, iniciada nesta quinta-feira, 24, poderá impactar toda a economia mundial. Em Goiás, a preocupação consiste no aumento dos custos de produção, principalmente no agronegócio e nas indústrias que mantêm relações comerciais com os países do Leste Europeu e na insegurança jurídica em relação aos investimentos.
O saldo da balança comercial goiana de 2021 em importações com a Rússia soma US$ 305,069 milhões, com ênfase nos fertilizantes químicos. Em relação aos produtos exportados, o total é de US$ 81,433 milhões, com destaque para as carnes. Com a Ucrânia, as vendas se sobressaem as compras, com R$ 25,733 milhões exportados e US$ 12,238 mil importados.
O presidente em exercício da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), André Rocha, afirma que, no momento, é preciso avaliar as incertezas que um período como esse traz. “É um momento de insegurança jurídica. As empresas começam a postergar investimentos, o que por si só já é ruim, podendo até mesmo piorar nas situações em que elas deixam de injetar dinheiro na economia. Se não existe investimento, diminui a produção e gera desemprego”, afirma Rocha.
O coordenador técnico da Fieg, Marcelo Ladvocat, durante a primeira reunião do ano do Conselho Temático de Comércio Exterior (CTComex) da Fieg, realizada na quinta-feira, 24, pontuou que o cenário internacional é totalmente incerto quanto ao tráfego de mercadorias diante do conflito. “Definitivamente, estamos num momento de parada total. A questão é bastante incerta, mas não creio que seja de longo prazo e com envolvimento de outras nações no conflito, aprofundando a crise entre Rússia e Ucrânia. De qualquer forma, o tráfego aéreo já é impactado fortemente, o que desdobra no câmbio”, analisou o economista.
Outro ponto que precisa ser considerado é o aumento das commodities, uma vez que o preço elevado do milho e da soja influenciam nos custos da ração dos animais. “Tanto a Rússia quanto a Ucrânia são grandes produtores de alimentos, como soja e milho. Agora, esses produtos também tendem a aumentar. O fazendeiro que precisa comprar essas mercadorias vai adquirir algo mais caro, como a ração para o gado, por exemplo, e isso vira um ciclo vicioso de aumento de preços”, ressalta.
Apesar da preocupação, André afirma que com o fato do Brasil ser um grande celeiro e também um país dependente de fertilizantes, sobretudo dos fornecedores russos, a situação não é de desespero, mas de alerta. Isso, porque “no momento, em um curto prazo, não corremos perigo de ficar sem fertilizantes, mas no futuro, pior do que subir o preço, é não ter o produto para comprar”.
Outro ponto importante que impacta diretamente o estado de Goiás é o preço do petróleo, visto que a Rússia é o segundo maior exportador de petróleo do mundo. André ainda explica que, “caso [a Rússia] saia do mercado, deixa-se uma quantidade expressiva de ser vendida, ou seja, lei da oferta e procura. O aumento do barril de petróleo influencia no preço da gasolina e diesel, no custo agrícola, na alimentação, no transporte e na energia elétrica”.
Ao ser questionado sobre algum cenário favorável para o Brasil se tornar um potencial concorrente de mercado caso a Rússia ou a Ucrânia deixem de vender algum produto, André analisa os cenários de ameaças e oportunidades, e é enfático “não há uma conjuntura positiva para o Brasil neste caso”. Ele também explica que o país se encontra com uma economia fragilizada, próximo do período eleitoral e com uma alta pressão fiscal.
“O setor produtivo vê esse conflito com muita preocupação, pois se um desses países não consegue vender algum produto e o Brasil entra no mercado, o preço dessa mercadoria vai subir e será vendido para quem quer que seja. Se lá fora estão pagando muito, por que alguém venderá mais barato aqui?”. Este possível cenário, segundo André, representa uma queda na renda e no emprego, pois movimenta pouco a economia local e impacta diretamente no aumento da inflação.
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