Fonte: Diário do Comércio
01/02/2022
O aumento da produção agrícola tem impulsionado a demanda nacional pelos adubos e fertilizantes, que, na grande maioria, são importados. Em 2021, as importações brasileiras foram recordes e chegaram a 41,58 milhões de toneladas. De acordo com o Boletim Logístico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), houve alta de 21,4% quando comparado com 2020, ano em que as compras dos produtores brasileiros somaram 34,25 milhões de toneladas.
Os dados da Conab mostram que Minas Gerais é o quinto maior importador. Em 2021, o Estado comprou no mercado externo em torno de 3,86 milhões de toneladas de adubos e fertilizantes. No País, a liderança é de Mato Grosso, com importação de 8 milhões de toneladas em 2021, seguido pelo Rio Grande do Sul (6,6 milhões de toneladas), Paraná (5,4 milhões de toneladas) e São Paulo (4,3 milhões de toneladas).
De acordo com superintendente de logística operacional da Conab, Thomé Guth, a alta demanda em 2021 foi resultado da maior capitalização dos produtores rurais e da tendência de preços firmes das commodities, o que estimulou tanto o aumento do plantio como os investimentos para alavancar a produtividade.
“O que basicamente pesou no processo de importação dos fertilizantes e adubos foi a condição do produtor rural. As commodities com valores elevados possibilitaram a maior capitalização do produtor, que planejou a safra baseando-se na possibilidade de comprar à vista para conseguir melhores resultados. Além disso, com os problemas de produção e limites de vendas na Rússia e na China, muitos se anteciparam. Outro fator é que os preços altos de commodities permitiram o aumento da área e dos investimentos”, explicou.
Ainda segundo Guth, mesmo com os preços dos fertilizantes em alta e dos custos também, os produtores brasileiros planejaram bem a logística para o transporte da produção de grãos até os portos de forma que aproveitassem o carreto de volta com o carregamento para os fertilizantes. A medida foi considerada importante para minimizar o impacto das altas dos combustíveis e demais custos.
Movimento crescente
A importação de fertilizantes no Brasil vem mantendo o crescimento desde 2017, o que segundo o analista de Agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, acompanha o ritmo de intenção de plantio feito pelo produtor rural.
“O plantio da safra de grãos vem aumentando a cada ano e a demanda por fertilizantes aumenta também, acompanhando a intenção do produtor. A demanda pelos grãos vem se mantendo aquecida, o que se produz de soja, por exemplo, se vende”, destacou.
Para 2022 as estimativas são incertas e muitos fatores irão impactar os preços e a oferta. Entre os que precisam ser acompanhados de perto está a ameaça de guerra entre a Rússia e a Ucrânia, já que a Rússia é importante fornecedora dos produtos.
O superintendente de logística operacional da Conab, Thomé Guth, explica que se os preços dos combustíveis se mantiverem altos, pode haver limitação dos volumes produzidos e exportados pela China e Rússia, afetando todo o mercado.
“As estimativas não são as mais favoráveis. Se mantiver a alta de combustíveis, pode haver manutenção da restrição dos principais exportadores como Rússia e China. Ainda existe a ameaça de guerra entre Rússia e Ucrânia, que pode afetar. Por enquanto, os preços das commodities estão altos e o produtor mantendo as margens, mas os custos também estão mais altos e, dependendo da intenção do plantio nos Estados Unidos, pode haver queda nas cotações, freando a demanda por fertilizantes. Por isso, é importante que o produtor esteja bem preparado para fazer compras de oportunidade, aproveitando possíveis quedas dos preços dos fertilizantes”, disse.
O analista de Agronegócio da Faemg explica que existe uma tendência de que os preços caiam um pouco no segundo semestre por uma regularização da oferta. Porém, não é garantido e o produtor precisa ficar atento às condições de mercado.
Alternativas para produtores
“Existe uma tendência de os preços caírem no segundo semestre, o que pode estimular as compras. Mas é preciso observar os cenários. O Brasil é muito dependente das importações e, infelizmente, não tem tecnologia para ser independente de certos produtos. Os bioinsumos estão ganhando força, inclusive, com linhas de crédito para fomentar a produção interna, mas não é uma solução de curto prazo”, afirmou.
Para Coimbra, o produtor rural, bem orientado, pode adotar técnicas para usar menos fertilizantes. “O que indicamos é que o produtor, no momento em que o insumo está caro, use a reserva do solo que já é cultivado há mais tempo e tem reservas. Mas é um processo que tem que ser feito com análises de solo e muito bem orientado por um bom agrônomo para não ter perdas”, completou.
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