Foto: Divulgação Setcesp
Atividades com mais presença de pessoas e caráter presencial para sua realização tiveram um impacto mais negativo no período, explica analista do IBGE.
O primeiro ano da pandemia alterou a estrutura de geração de receitas entre os diferentes segmentos de serviços. Os serviços de transportes, auxiliares aos transportes e correio perderam a liderança, já que a participação na receita operacional líquida de serviços, que era de 29,1% em 2019, caiu para 28,1% em 2020.
Por outro lado, os serviços profissionais, administrativos e complementares ampliaram sua parcela de 26,7% em 2019 para 28,4% em 2020 e se tornaram o segmento líder entre os sete que compõem os serviços. Este foi o retrato observado na Pesquisa Anual de Serviços 2020 (PAS 2020), divulgada nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para além dos transportes, outro segmento com retração expressiva na geração de receitas na passagem entre 2019 e 2020 foi o de serviços prestados principalmente a famílias – com queda de 11,8% para 9,2%.
“A atividade de serviços é muito heterogênea e os segmentos se adequaram de forma diferente à pandemia. As atividades mais intensivas em presença, com caráter presencial para sua realização, tiveram um impacto mais negativo, enquanto outras sem essa característica não tiveram tanto impacto”, afirma o analista da pesquisa, Marcelo Miranda.
A perda de participação do segmento de transportes se insere nesse contexto de caráter presencial, puxado pelo transporte de passageiro, afetado tanto por conta do avanço do home office, que tirou muitos trabalhadores do percurso casa-trabalho, quanto pela retração do turismo. Dentro do grupo de transporte, destacam-se como exceção aqueles ligados a cargas.
Por outro lado, serviços profissionais, administrativos e complementares são atividades mais compatíveis ao esquema de trabalho de home office, que avançou por causa da necessidade de isolamento social, explica Miranda. “O ano de 2020 teve um impacto relevante nas atividades de serviços profissionais e, ao mesmo tempo, de forma negativa nos serviços de transportes e nos prestados às famílias. Dentro de serviços profissionais, temos escritórios de consultoria, de contabilidade, de arquitetura e outros, que se adequaram bem ao período do home office”, diz ele.
No olhar por atividades dentro de cada segmento – são 34 acompanhadas pelo IBGE na Pesquisa Anual de Serviços (PAS) -, os maiores aumentos de participação se deram em serviços técnico-profissionais – fatia passou de 10,3% em 2019 para 11,4% em 2020 – e em transporte rodoviário de cargas – de 11% para 12,1%, respectivamente. Também avançou a parcela dos serviços auxiliares, dos seguros e da previdência complementar na receita operacional líquida, de 4,9% em 2019 para 5,6% no ano seguinte.
Postos de trabalho
Mais afetados pela necessidade de isolamento social, os serviços com caráter presencial tiveram uma perda de quase 580 mil postos de trabalho no primeiro ano da pandemia. O movimento foi compensado em parte pela geração de vagas em outros segmentos, como seleção, agenciamento e locação de mão de obra, serviços de escritório e apoio administrativo e transporte rodoviário de cargas.
Com isso, o saldo negativo de pessoas ocupadas em serviços não financeiros em 2020 ficou em 313.383. O pessoal ocupado nessas atividades caiu de 12,837 milhões em 2019 para 12,524 milhões em 2020.
“Quando se olha para o pessoal ocupado em serviços, também há um comportamento heterogêneo. As atividades que se adaptaram mais rapidamente à pandemia, em que é possível usar teletrabalho, ou que foram consideradas essenciais, como é o transporte de carga, foram as menos afetadas. Já os serviços com caráter mais presencial foram os mais afetados”, reforça Miranda.
A atividade que mais perdeu pessoal, em números absolutos, foi a de serviços de alimentação (-329,2 mil pessoas). O número de pessoas ocupadas caiu de 1,760 milhão em 2019 para 1,431 milhão em 2020, uma retração de 18,7%. A queda mais intensa em termos percentuais se deu na atividade de agências de viagens, operadores turísticos e outros serviços de turismo. Ao fim de 2019, a atividade reunia 83,3 mil trabalhadores, mas perdeu quase 30% (28,4%) desse contingente na passagem para 2020, ou 23,7 mil trabalhadores.
Também houve perdas expressivas em atividades como transporte de passageiros (96,7 mil), serviços de alojamento (65,2 mil), atividades culturais, recreativas e esportivas (24,8 mil), serviços pessoais (29,5 mil) e transporte aéreo (9,1 mil).
As perdas só não foram maiores porque as atividades sem esse caráter presencial registraram aumento de pessoal ocupado. O contingente de pessoal ocupado em seleção, agenciamento e locação de mão de obra subiu 22,2% em 2020, ante 2019, um ganho de 143,2 mil vagas. Já o aumento de pessoas ocupadas em serviços de escritório e apoio administrativo foi de 12%, ou 100,9 mil postos de trabalho. Por fim, o transporte rodoviário de cargas – atividade classificada como essencial no início da pandemia – registrou alta de 7,2%, ou 73,4 mil vagas.
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