Com a baixa produtividade impulsionada pelo clima adverso, produtores relatam dificuldade em cumprir contratos antecipados
Por Canal Rural
13/08/2021
Frustração na produtividade da segunda safra, custo elevado de produção e tributação. Esses são alguns fatores que, segundo o setor produtivo de Mato Grosso, podem causar desequilíbrio na rentabilidade da safra de soja 2020/21 no estado.
O produtor Diego Giacomeli fez investimento alto nos milharais esse ano. A expectativa do agricultor era repetir os índices históricos de 115, 120 sacos de médias de produtividade alcançados na propriedade em Jaciara. No entanto, a deficiência hídrica severa comprometeu o desempenho esperado nesta safra no campo, com perdas de mais de 50% na produção.
“Começamos a plantar milho no dia 23 de fevereiro. Faltou chuva em todos os períodos essenciais da cultura, tanto no vegetativo quanto no pré- pendoamento e no enchimento de grão. Tivemos cigarrinha também e tudo isso contribuiu para uma baixa produtividade”, relata Giacomeli.
O baixo rendimento das plantações trouxe outra preocupação ao agricultor: a falta de grãos para cumprir as entregas dos 40 mil sacos de milho negociados antecipadamente nesta safra.
“Nós vendemos 70% da safra antecipado entre o barter e contrato para fazer caixa, mas infelizmente a produção não vai dar para cumprir os contratos. Nós vamos sentar com as tradings e tentar uma negociação, e vamos ver o que acontece, para tentar achar uma solução para o problema”, complementa Diego Giacomeli.
Clima também afeta lavouras de algodão
Além do milho, o algodão outra cultura importante cultivada no município também foi prejudicada pelo clima adverso. De acordo com o sindicato rural de Jaciara, a estimativa é de quebra significativa tanto em produtividade quanto na rentabilidade da segunda safra no município.
“Além de sairmos fora da janela, tivemos um achatamento na quantidade do índice pluviométrico, tivemos uma frustração de safra muito grande, tendo quebras aí no milho e no algodão em torno aí de 50% da expectativa que a gente tinha de colheita de produtividade. Entramos na safra de milho compromissados com mais de 50% da produção em preços praticados lá atrás que não é a realidade de hoje. A produção ficou em 50 sacas e hoje os produtores não vão cumprir os seus contratos com as tradings e as mesmas não querem praticar os washouts e as multas nos preços praticados lá atrás”, diz o vice-presidente do sindicato rural de Jaciara, Rafael Oliveira Santos.
Custos seguem como preocupação
Além deste cenário com problemas climáticos, o custo com insumos e a resposta do mercado financeiro, deixa o setor apreensivo em relação ao cultivo da nova safra de soja 2021/22 no estado. Para o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, esse será um ano de cautela para os produtores.
“A gente sabe que se o preço chega a recuar de uma hora para a outra todo custo está baseado em uma rentabilidade e uma viabilidade com soja a preços altos e milho a preços altos. Então o produtor tem que ter cautela, pé no freio e deixar o mercado estabilizar, porque ele é cruel e pode voltar de uma maneira rápida deixando o produtor a ver navios. A gente precisa trabalhar firme, procurar se capitalizar, esse é o caminho ao longo prazo da nossa agricultura”, afirma Cadore.
De acordo com o professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcos Cintra, o excesso de carga tributária também pode ser um ponto de desequilíbrio entre o custo e a rentabilidade da próxima safra de soja.
“A tributação é um custo adicional que também pode chegar na agricultura e tirar competitividade da produção subitamente. O país está vivendo duas reformas tributárias importantes uma do imposto de renda, influenciada por um projeto que está sendo discutida no Senado, que trata sobre um novo imposto sobre consumo. Esse fato pode onerar muito a agricultura”, alerta o professor.
Crescimento na área de soja em Mato Grosso
De acordo com o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), o estado que é o maior produtor de soja no país, deve registrar aumento de 3,5% da área destinada ao cultivo da oleaginosa, totalizando 10,8 milhões de hectares para o ciclo 2021/22 no estado. A estimativa de produção também é animadora, de acordo com o levantamento, o estado deve colher nesta safra em torno de 37,4 milhões de toneladas de soja, crescimento de 3,4% em relação ao ano passado. Se confirmada a projeção, será o maior volume produzido no estado.
“Todo esse crescimento de soja que está ocorrendo na conversão das pastagens, em regiões em que a logística tem melhorado. É importante destacar que isso não só o momento do mercado, a gente tem também um aumento de competitividade da melhora da logística, especialmente na região norte e leste do estado, onde tem os impactos dos portos do Arco Norte, que fez com que os preços da soja melhorassem positivamente e viabilizassem a conversão de mais áreas. A área de conversão que a gente tem de pastagem no estado é em torno de 14 milhões de hectares com algum nível de aptidão”, ressalta o superintende do Imea, Daniel Latorroca.
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