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Transição para veículos elétricos: ameaça ao meio ambiente ou oportunidade para o Brasil?

Estudo revelou um lado sombrio da transição: a pressão crescente sobre os recursos naturais, pode agravar o desmatamento e a degradação ambiental, especialmente em países ricos em biodiversidade, como o Brasil.

Portal do Trânsito, Mobilidade & Sustentabilidade

Por Mariana Czerwonka Publicado 09/05/2025 às 08h15


O Brasil, com sua vasta riqueza mineral e biodiversidade, tem a oportunidade de liderar essa transição de forma sustentável. Foto: vschlichting para Depositphotos
O Brasil, com sua vasta riqueza mineral e biodiversidade, tem a oportunidade de liderar essa transição de forma sustentável. Foto: vschlichting para Depositphotos

A transição para veículos elétricos (VEs) é amplamente reconhecida como uma das principais estratégias para a descarbonização do setor de transportes e para atingir a neutralidade climática até 2050. Contudo, um estudo recente revelou um lado sombrio dessa transição: a pressão crescente sobre os recursos naturais, como minerais essenciais para a produção de baterias, pode agravar o desmatamento e a degradação ambiental, especialmente em países ricos em biodiversidade, como o Brasil.

O estudo alerta que embora o movimento em direção aos VEs seja uma mudança necessária, é fundamental que essa transição seja feita de forma equilibrada, garantindo que os benefícios ambientais não sejam anulados por impactos negativos.


O impacto do aumento da demanda por minerais


O estudo denominado “Driving change, not deforestation: how Europe could mitigate the negative impacts of its transport transition” encomendado pela Fern and Rainforest Foundation Norway e conduzido pela WU Vienna University of Economics and Business e pelo think tank (grupo de reflexão – em tradução livre) The négaWatt evidencia que, no cenário de “business as usual” (BAU), a expansão da produção de veículos elétricos pode resultar em uma perda de até 65 mil hectares de florestas até 2050. Essa área pode aumentar drasticamente, para 117,8 mil hectares, caso as baterias mais demandadas, como as NMC 811 (níquel, manganês e cobalto), prevaleçam.

O uso desses minerais está relacionado a um alto risco de desmatamento devido às suas fontes de extração em regiões críticas, como o Brasil e a Indonésia, ambos identificados como focos principais de desmatamento relacionado à mineração. Entretanto, a transição para baterias de menor impacto ambiental, como as LFP (ferro-fosfato), pode mitigar esses impactos. As baterias LFP têm uma pegada ambiental consideravelmente menor, reduzindo a perda de florestas em até 43%, uma melhoria significativa em comparação com as tecnologias mais convencionais.


De acordo com o estudo, o cenário mais otimista, com a adoção de tecnologias de mobilidade compartilhada e veículos de menor porte (cenário CLEVER), pode reduzir a pegada de desmatamento em até 67%, resultando em uma perda de apenas 21 mil hectares de florestas, um avanço importante para a preservação ambiental.


O papel do Brasil: desafios e oportunidades


O estudo mostra também que o Brasil desempenha um papel crucial nessa equação. Como um dos maiores produtores globais de minerais essenciais para as baterias de veículos elétricos, como níquel e cobre, o país está na linha de frente das decisões que moldarão o futuro da transição para a mobilidade elétrica. A pressão sobre as florestas brasileiras, particularmente a Amazônia, pode aumentar drasticamente, não apenas por conta do desmatamento direto relacionado à mineração, mas também devido ao “desmatamento indireto”, que inclui a construção de infraestrutura para a mineração e o estabelecimento de novas áreas agrícolas.


No Brasil, o desmatamento indireto já demonstrou ser até 12 vezes maior do que o desmatamento direto causado pela própria extração de recursos minerais.


Ou seja, o impacto da mineração vai muito além das áreas diretamente atingidas, afetando ecossistemas inteiros e comprometendo a biodiversidade local. Em um cenário global de crescente demanda por minerais para veículos elétricos, o Brasil pode se ver ainda mais pressionado a expandir suas atividades de mineração, com consequências ambientais graves.


Como mitigar os impactos ambientais?


Conforme as conclusões do estudo, para evitar que o avanço dos veículos elétricos seja responsável por mais danos ambientais, é crucial adotar uma série de medidas proativas que envolvem governos, indústrias e consumidores. Algumas das estratégias mais eficazes incluem:

  1. Promoção de mobilidade sustentável: a adoção de alternativas à mobilidade individual pode diminuir a pressão sobre a demanda por carros e, consequentemente, por minerais. Isso inclui políticas para incentivar o uso de transporte público, caronas, bicicletas e pedestres, além de promover o compartilhamento de carros como uma alternativa mais ecológica.

  2. Adoção de baterias sustentáveis: o impulso para a produção de baterias de menor impacto, como as LFP, é um passo fundamental. Essas baterias não só têm uma pegada ambiental menor, mas também são mais seguras e duráveis. O Brasil pode incentivar a pesquisa e o desenvolvimento dessas tecnologias, além de adotar uma política de compras públicas que favoreça baterias que não contribuem para o desmatamento.

  3. Fortalecimento da reciclagem de baterias: uma estratégia importante é aumentar a capacidade de reciclagem de baterias, minimizando a necessidade de extração de novos minerais. A criação de um mercado robusto para materiais reciclados reduziria a pressão sobre os recursos naturais e promoveria uma economia circular. Além disso, o fortalecimento das regulamentações de reciclagem e a ampliação da infraestrutura de coleta seriam vitais.

  4. Fortalecimento das regulamentações de mineração: o Brasil deve adotar uma abordagem mais rigorosa para regulamentar a mineração, garantindo que todas as operações respeitem as áreas ambientais protegidas e sigam padrões elevados de responsabilidade social e ambiental. O cumprimento de normas rigorosas de diligência, como as previstas pela União Europeia, também é essencial para evitar danos irreparáveis às florestas.


O papel do governo brasileiro na mitigação


O Brasil tem um papel vital para garantir que a transição para os veículos elétricos aconteça de forma sustentável, de acordo com o estudo. Para isso, o governo deve:

  • Desenvolver uma política de mineração sustentável: isso inclui a criação de zonas de mineração responsáveis, com forte monitoramento e controle sobre os impactos ambientais, além de incentivar a mineração de baixo impacto e práticas de restauração ecológica.

  • Apoiar a pesquisa em tecnologias limpas: incentivar a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias de baterias, especialmente aquelas que utilizam materiais abundantes e de baixo impacto ambiental, é essencial para que o Brasil se posicione como um líder global na transição para a eletromobilidade.

  • Fomentar a economia circular: investir na reciclagem e reutilização de materiais pode reduzir a necessidade de extração de novos recursos, minimizando os danos ambientais e gerando uma cadeia de suprimento mais responsável.


O caminho para um futuro sustentável


Embora a transição para veículos elétricos seja necessária para alcançar a neutralidade climática, os impactos ambientais relacionados à extração de minerais não podem ser ignorados, conclui o estudo.


O Brasil, com sua vasta riqueza mineral e biodiversidade, tem a oportunidade de liderar essa transição de forma sustentável. A implementação de políticas eficazes para promover uma mineração responsável, adotar tecnologias de bateria de baixo impacto e fomentar a mobilidade sustentável é fundamental para garantir que o futuro dos veículos elétricos não prejudique ainda mais os ecossistemas.


A mudança para um setor de transporte movido por energias renováveis não precisa ser uma escolha entre descarbonização e preservação ambiental. Com escolhas estratégicas bem como uma colaboração global, podemos avançar em direção a um futuro de mobilidade mais limpa e sustentável, sem sacrificar nossas florestas e biodiversidade. O Brasil, como potência ambiental, tem o poder de moldar essa transição de maneira que beneficie o mundo, mantendo seus ecossistemas intocados e prósperos para as futuras gerações.

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