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A inflação atingiu em cheio o setor de transporte rodoviário de carga no Brasil. Segundo levantamento feito pela Ticket Log, de janeiro de 2021 a maio deste ano o custos com peças subiram, em média, 57%. Além disso, as transportadoras foram afetadas pelas sucessivas altas do diesel. Assim, tanto empresas quanto caminhoneiros autônomos apostam na pesquisa de preços para reduzir as perdas.
É o caso de Anderson Zamperlini, dono de um Volkswagen Worker 9.150 ano 2008. “Não tenho medo de procurar, negociar e de precisar de mais tempo para comprar. De acordo com o caminhoneiro, há diferenças de preço inclusive de uma região para outra, ou mesmo entre Estados. Em Santa Catarina, o filtro de ar saiu R$ 70 mais barato do que no Paraná”, diz.
Conforme o diretor-executivo da Ghelere Transportes, Eduardo Ghelere (abaixo), também vale a pena pechinchar. Ele conta que incorporou essa prática à sua rotina de negociação. Segundo o empresário, em último caso vale a pena trocar de fornecedor. “Importei 200 pneus e fiquei dois meses sem comprar aqui. Depois disso, o fornecedor nacional acabou negociando um valor mais justo”, afirma.
Inflação prejudica planejamento
Além disso, a transportadora está reduzindo o máximo possível de gastos. Nesse sentido, em vez de camas grandes na cabine, por exemplo, seu novos caminhões vêm com modelos menores. Mesmo assim, Ghelere diz que não está conseguindo fechar as contas no azul. De acordo com ele, o orçamento previsto para manutenção entre janeiro e agosto deste ano estourou em mais de 40%.
Ou seja, a inflação compromete o planejamento das empresas. Segundo o presidente do SETCESP, Adriano Depentor, há risco de colapso nos planos de manutenção preventiva. O sindicato representa mais de mil empresas de transporte do Estado de São Paulo. De acordo com ele, na maioria das vezes não dá para repassar o aumento de custos ao valor do frete.
Conforme o executivo, muitas transportadoras estão buscando itens mais baratos no mercado paralelo. “Contudo, isso nem sempre traz segurança para rodar. Muitas vezes, as peças de segunda linha não têm controle de qualidade”, alerta. De acordo com Depentor, a situação é mais comum no caso das pequenas transportadoras.
Envelhecimento da frota
Seja como for, as fabricantes também buscam formas de evitar a migração de clientes para o mercado paralelo. Segundo informações da Paccar Parts, marca de peças de reposição da DAF, há um grande esforço para evitar o repasse da alta de custos ao consumidor.
Além disso, o diretor-geral da empresa, Antenor Frassom, afirma que a companhia lançou um pacote de revisão com preços fixos neste ano. “Vamos manter a promoção até dezembro para ajudar a amenizar as altas de custos que os transportadores estão tendo com combustível e outros componentes”, diz.
De acordo com o diretor-geral de Especialidades de Frota e Mobilidade, da qual a Ticket-Log faz parte, Eduardo Fleck, a inflação das peças também contribui para o envelhecimento da frota. Conforme o especialista, de janeiro de 2019 até agora, a idade média dos veículos pesados no Brasil cresceu 29%.
Câmbio afeta preços
Vários fatores são responsáveis pelos aumentos. Segundo o coordenador de cursos automotivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Jorge Martins, entre eles estão a alta dos custo de logística. Bem como a valorização do dólar em relação ao real.
Seja como for, também houve desvalorização do euro. Assim, Frasson afirma que a situação atual também tem vantagens. Afinal, boa parte das peças fornecidas pela Paccar Parts são importadas da Europa. “A alta demanda nos trouxe um crescimento de aproximadamente 60% no acumulado de vendas deste ano”, diz.
“Queremos ampliar a oferta de revisão a preço fixo para caminhões a partir de três anos de uso, que já estão fora da garantia.” Segundo o executivo, o foco serão itens da TRP. Ou seja, a linha de componentes para modelos de outras marcas e modelos vendidos no Brasil. Porém, ele afirma que, caso a inflação continue subindo, a empresa deverá reajustar os preços em janeiro.
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