Empresas investem para melhorar eficiência, ampliação e diversificação de atividades, novos mercados e tecnologias diante da demanda por alimentos
Fonte: Valor Econômico
29/07/2022
Foto: Divulgação
As grandes empresas do setor agropecuário atravessam um período de forte consolidação nos últimos três anos. Safras recordes, recuperação dos preços das commodities, desvalorização do real, investimentos em eficiência dentro e fora da porteira têm colocado todo o setor como destaque em uma economia que patina.
O grupo das 45 empresas do agronegócio com receita líquida superior a R$ 5 bilhões faturou R$ 1,19 trilhão em 2021, valor 39,7% acima da receita de R$ 849,9 bilhões verificada no ano anterior, como mostra levantamento realizado pelo Valor Data, departamento de análise e pesquisa do Valor Econômico. E 2022 segue trazendo muitos bons resultados.
No primeiro trimestre deste ano, a Kepler Weber obteve uma receita líquida operacional de R$ 437,6 milhões, ante R$ 236,2 milhões no mesmo período de 2021, alta de 85,3%. Em ritmo semelhante, a Caramuru Alimentos encerrou com receita líquida de R$ 1,78 bilhão, superior em 40,1% ao R$ 1,26 bilhão do primeiro trimestre do ano passado.
Fechando o balanço do ano safra 2021/22, finalizado em maio, a BrasilAgro alcançou até o terceiro trimestre com receita líquida de R$ 1,1 bilhão. O valor superou em 157% os R$ 440,6 milhões dos nove primeiros meses da safra 2020/21. “Foi um ano espetacular”, comemora André Guillaumon, CEO da companhia.
Os negócios para as empresas do agronegócio vão bem por aqui e no exterior. No primeiro trimestre deste ano, a JBS, maior empresa do setor, alcançou um faturamento mundial de R$ 90,9 bilhões entre janeiro e março, crescimento de 20,8% na comparação com igual período do ano passado.
No Brasil, o trimestre da JBS fechou com receita líquida de R$ 14,3 bilhões (alta de 24,2%), enquanto a Seara, do mesmo grupo, que reúne negócios de aves, suínos e alimentos preparados, obteve receita de R$ 9,5 bilhões, 21% superior ao mesmo período do ano passado. O fechamento de 2021 foi igualmente compensador.
A JBS obteve receita líquida de R$ 350,7 bilhões na operação mundial, o melhor resultado de sua história. Na operação nacional, a receita líquida chegou a R$ 53,8 bilhões, com crescimento de 29% em relação ao ano anterior. A Seara fechou com receita de R$ 36,5 bilhões, alta de 36,6% na comparação com 2020, informa a empresa.
A pandemia, lembra Guillaumon, provocou uma injeção de capital no mundo, o que refletiu em um maior consumo de commodities. Covid-19 e a guerra, completa, mostraram que o mundo não é tão globalizado como se imaginava, o que implicará uma revisão dos estoques de passagem de alimentos, levando a uma demanda adicional por esses produtos no mundo. Isso traça um quadro de oferta e demanda ajustada nos próximos anos, o que deve manter os preços firmes, compensando a alta dos insumos.
Esses bons resultados, ajudado também pela desvalorização do real nos últimos dois anos, e as perspectivas positivas, têm puxado os investimentos no setor. A BrasilAgro arrendou mais 5.714 hectares no Mato Grosso, área que está sendo incorporada à produção neste ano e deve ajudar na meta de crescimento de 10% no resultado da empresa na próxima safra.
A nova área substitui parte da produção que vinha da Fazenda Alto Taquari, que foi notícia ao ser vendida por R$ 590 milhões, o maior negócio com terras do grupo. “Quando a terra aprecia, saímos do ativo, diferente de um produtor tradicional”, afirma o CEO da empresa que opera no mercado de aquisição de propriedades e produção de grãos, florestas e álcool.
Na busca da redução dos custos e cuidados com o ambiente, a empresa está investindo R$ 2,5 milhões em fábricas de bioinsumos no Centro-Oeste, o que reduzirá a dependência por agroquímicos.
O potencial de crescimento de produção por meio da produtividade no Brasil central tem chamado cada vez mais atenção de grandes grupos do agro. Não fosse a estiagem enfrentada pelo país, a safra de grão teria ultrapassado os 300 milhões de toneladas na última temporada. Apostando na superação dessa marca com o clima colaborando, a Kepler Weber segue investindo na expansão depois de marcar três anos de crescimento consecutivo.
Responsável por cerca de 40% das 17 mil estruturas de armazenagem instaladas no país, o olhar sobre a nova fronteira agrícola é atento. Investiram na abertura de novos centros de distribuição (CDs), que devem chegar a sete neste ano, sendo os últimos instalados em Balsa (MA), Paragominas (PA). O próximo centro está programado para Sinop (MT).
O número de projetos sinaliza o bom momento do setor. Em janeiro deste ano, a empresa estava com 150 obras em andamento e R$ 1 bilhão em projetos. “O setor está capitalizado e fazendo investimentos”, explica Piero Abbondi, CEO da Kepler. Para fazer frente à demanda, a empresa investe junto. O programa de Capex de R$ 45 milhões em 2021 subiu para R$ 65 milhões neste ano, afirma o executivo. Na ponta do financiamento, a empresa está sendo a primeira a desenvolver um veículo próprio de financiamento aos clientes em parceria com o banco BTG. O fundo conta com R$ 120 milhões, que serão repassados com prazo de dez anos e taxa de CDI mais 4,5%.
A digitalização dos processos é o principal movimento da Kepler Weber. Neste ano, assinou um memorando de entendimento com a Procer Automação, empresa catarinense de serviço de monitoramento de armazenagem, conservação de grãos e gestão de estruturas de armazenagem que fatura R$ 32 milhões. Com a aquisição, que deve se concretizar até meados do segundo semestre, a Kepler acelera o processo de digitalização, afirma Abbondi. O valor da transação não foi revelado.
A certeza na expansão do consumo de alimentos e a importância de abrir novos mercado têm sido o caminho da Caramuru. A empresa investiu R$ 250 milhões na construção de uma fábrica de proteína concentrada de soja em Itumbiara (GO), que deve ser inaugurada em 2023. O produto dará origem a uma ração para peixes destinada ao mercado asiático, fortalecendo a presença da empresa nessa região e garantindo agregação de valor aos produtos, afirma Júlio Cesar Costa, CEO da empresa.
Forte comprador de soja com capacidade de armazenagem de 2,2 milhões de toneladas, esse grupo nacional vem crescendo organicamente e está trazendo um novo produto para o mercado: o etanol de soja. Para isso, investiram R$ 115 milhões no complexo industrial de Sorriso (MT).
Quando a planta estiver em plena produção, dali sairão 10 milhões de litros de etanol hidratado e cerca de 3 mil toneladas de lecitina. O etanol poderá ser vendido para o mercado de combustível automotivo e para a indústria química. A lecitina seguirá em grande parte para a indústria de alimentos. Considerando que o crescimento de todas as operações não deve ser grande em volume, Costa reforça a a importância de investir em produtos de maior valor agregado para manter a margem Ebitda entre 7% e 8% e manter os bons resultados.
No setor de proteína animal, a Granja Faria, maior granja produtora de ovos comerciais e férteis do país, com 10 milhões de unidades por dia e faturamento de R$ 1 bilhão por ano, investiu R$ 50 milhões para a construção de duas fábricas de fertilizante organomineral a partir de esterco de 14 milhões de galinhas do grupo, que produzem 7,2 milhões de ovos por dia. Serão duas plantas de fertilizantes nos Estados do Tocantins e Minas Gerais destinando inicialmente 25% do esterco produzido. O grupo Faria espera fechar este ano com um faturamento de R$ 1,5 bilhão, 10% desse valor obtido com a fábrica de fertilizantes.
Outro ganho com esse movimento, diz Denilson Dorigoni, CEO da empresa, que investiu R$ 1,3 bilhão na aquisição de granjas e investimento em tecnologia nos últimos anos, é o reforço à economia circular e metas de sustentabilidade do grupo. O caminho da diversificação passa por novos investimentos com a marca Eggy, uma rede de fast-food que começa a ser montada pela granja.
Com duas unidades, uma em São Paulo e Minas Gerais, a meta é chegar a 30 lojas com menu à base de ovos e a venda ao varejo de produtos derivados de ovos. O crescimento passará por lojas de rua, em aeroportos e centros comerciais.
Diversificar geograficamente, lançar novos produtos de alto valor tem sido também estratégia verificada no setor de proteína animal. A JBS entrou em 2021 no mercado de proteína cultivada (a produção de alimentos a partir de células de animais) com a compra da espanhola BioTech Food. Entre a aquisição e a instalação do novo centro de pesquisa e desenvolvimento de carnes em Florianópolis (SC), a empresa está investindo US$ 100 milhões.
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