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Pecuária pode suprir 25% dos fertilizantes necessários para a agricultura

Pesquisador da Embrapa Solos, José Carlos Polidoro, fala sobre o mercado brasileiro de fertilizantes e aponta novas tecnologias para diminuir dependência externa


Fonte: O Presente Rural

29/07/2022


Foto: iStock


A guerra entre Rússia e Ucrânia serviu de gatilho para desencadear uma verdadeira corrida em busca de alternativas para evitar um possível desabastecimento de fertilizantes na agricultura brasileira.


O Brasil importa quase todo o volume de fertilizantes consumido na produção agrícola. Mesmo com a notória dependência do mercado externo, foi preciso um conflito em do outro lado do mundo para se perceber a magnitude do problema escancarado a tempo.


O Jornal O Presente Rural conversou com o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, José Carlos Polidoro, da Embrapa Solos, para saber sobre o que já vinha sendo feito para minimizar a dependência dos chamados fertilizantes NPK, quais os avanços das pesquisas desenvolvidas pela empresa e quais alternativas internas podem ser exploradas, para inclusive, diminuir o atual elevado custo de produção.


De acordo com Polidoro, o Brasil caminha para reduzir sua dependência estrangeira de fertilizantes. Nesse cenário, a pecuária pode suprir 25% do total necessário para a agricultura no país.


O Presente Rural – Quais fertilizantes são usados no Brasil para as culturas de milho, soja e trigo?

José Carlos Polidoro – As culturas citadas na pergunta utilizam as mesmas substâncias químicas, minerais ou orgânicas e agora também, microrganismos que fornecem nutrientes às plantas. Especificamente, as produções de milho e de soja consomem mais de 70% do fertilizante que possui nitrogênio, fósforo e potássio (NPK) na agricultura brasileira. Somados à produção de trigo que tem crescido no país, e ao algodão, essas culturas devem representar cerca de 90% do total consumido no Brasil.


O Presente Rural – O que representam os fertilizantes no custo de produção para essas culturas?


José Carlos Polidoro – O custo de produção para fazer a fertilização do solo varia conforme a cultura. De acordo com os últimos levantamentos feitos que fizemos os fertilizantes representam mais de 35% do custo de produção para fazer a fertilização do solo para as culturas de soja e milho.


O Presente Rural – Quanto o Brasil consome de fertilizantes, qual o volume de importação e a produção brasileira de fertilizantes?


José Carlos Polidoro – O consumo de fertilizantes no Brasil ultrapassou 45 milhões de toneladas, sendo que 42 milhões de toneladas vieram de outros países. A produção nacional em 2022 corresponde a 11% do consumo, ou seja, 89% dos fertilizantes consumidos no país são importados.


O Presente Rural – Quem produz fertilizantes no Brasil?


José Carlos Polidoro – As principais empresas responsáveis pela produção nacional de fertilizantes são multinacionais como a Mosaic, Yara, entre outras, e a nacional Unigel, que arrendou as fábricas da Petrobras.


O Presente Rural – O Brasil enfrenta uma escassez de fertilizantes? Isso pode comprometer os próximos plantios?


José Carlos Polidoro – O Brasil não enfrenta escassez de fertilizantes, mas sim, uma alta de preços. Os fertilizantes para essa safra foram entregues, e ao que parece, conforme o movimento do mercado atual, não teremos falta do produto para a próxima safra.


O Presente Rural – Quais ensinamentos a crise dos fertilizantes trouxe para a agropecuária brasileira?


José Carlos Polidoro – A crise dos fertilizantes pode ensinar para a agricultura brasileira que existem dois caminhos que não pode deixar de perseguir: o primeiro é intensificar as boas práticas de utilização de fertilizantes e corretivos do Brasil. A taxa de eficiência no país é considerada baixa e nós podemos aumentar essa eficiência.


O índice para o nitrogênio é em torno de 40% a 60%, o fósforo é de 30% a 50% e para o potássio não passa de 70%. Ou seja, a gente ainda joga fora um produto importado, que é caro, e ele vai para o ambiente, e isso ainda pode criar problemas de poluição ambiental em alguns locais.


O segundo caminho é adotar tecnologias nacionais que estão sendo desenvolvidas por meio das cadeias emergentes, como insumos organominerais e agro minerais, que são minerais com nutrientes, que não são solúveis em água, mas que podem ir construindo a fertilidade do solo como condicionadores.


Usar mais calcário, mais gesso, adotar o fosfato natural e aumentar o teor de matéria orgânica no solo, com os organominerais, ou mesmo adotando boas práticas agrícolas, isso o produtor não pode deixar de colocar como prioridade na sua atividade.


O Presente Rural – Como aumentar a produção interna para depender menos do mercado externo?

José Carlos Polidoro – O Brasil vai produzir mais fertilizantes para diminuir sua dependência, essa é a principal meta do Plano Nacional de Fertilizante (PNF) que foi publicado no dia 11 de março de 2022 pelo presidente da República. Esse plano está em pleno andamento e tem como meta diminuir a importação de fertilizantes nas próximas décadas para menos de 50%. Para isso, diversos investimentos estão sendo anunciados e aumentarão muito a produção nacional de fertilizantes.


O Presente Rural – O Plano Nacional de Fertilizantes pode ajudar no curto, médio ou longo prazo?

José Carlos Polidoro – O PNF é uma política de Estado que reflete um pacto brasileiro em nível federal e estadual, com o setor privado, tanto a indústria, a mineração, órgãos ambientais, até os consumidores finais que são os produtores rurais, nosso principal elo desta cadeia.


O PNF tem metas de curto, médio e longo prazos. Já está causando efeito em metas a longo prazo sendo alcançadas, como a melhoria do ambiente de negócios, onde estamos com um projeto de lei sendo aprovado tanto no Congresso Nacional quanto nos estados, como no Rio de Janeiro, que vai desonerar o investimento na fabricação de fertilizantes e insumos para a produção de plantas. No caso do Rio de Janeiro, também estamos buscando recursos muito fortes entrando para incentivar a ciência, a tecnologia e a inovação, por meio da rede FertiBrasil liderada pela Embrapa. O objetivo é aumentar o conhecimento e desenvolvimento de novas tecnologias de boas práticas de fertilização.


Também será em breve feito um grande investimento na pesquisa mineral, para elevar o conhecimento dos recursos minerais e ampliar a disponibilidade de matéria-prima, e com isso aumentar a produção nacional de fertilizante, que tem como base o gás natural, recursos minerais e uma parte de recursos orgânicos no país.


O plano veio para ficar e já causa efeitos. Só não está faltando fertilizante no Brasil porque temos o PNF, com o Conselho Nacional de Fertilizantes atuando desde 11 de março. Posso dizer que até foi antecipado muitas ações. Elas foram feitas em 2020, antes do PNF, pelo grupo de trabalho interministerial a pedido da Presidência da República, liderado pela Tereza Cristina, na época ministra da Agricultura.


O Presente Rural – Os biofertilizantes produzidos através da produção de proteína animal podem ajudar a reduzir a dependência por outros fertilizantes?


José Carlos Polidoro – A produção de proteína animal gera uma série de resíduos. A criação de bilhões de cabeças de suínos, aves e bovinos produz uma quantidade incrivelmente grande de resíduos. Esses animais produzem quantidades de nutrientes nas fezes e na urina que são potencialmente capazes de suprir até 1/4 da demanda de fertilizantes do Brasil.


Depois da criação tem a parte da agroindústria, que continua gerando resíduos, que chamamos de sub-produtos ou co-produtos, que são ricos em nutrientes também, como as farinhas de ossos, as vísceras, etc. No estado de Rondônia, por exemplo, têm indústrias que produzem farinha de ossos com quantidade de fósforo suficiente para atender toda a demanda da agricultura por esse nutriente no estado. E isso acontece em vários outros estados.


Muitas grandes empresas como a JBS, dentre outras, estão investindo nesse caminho de produzir e utilizar até para seus próprios criadores e parceiros. Então, isso não tem volta, e essa cadeira da proteína animal pode ser um grande fiel da balança na produção de fertilizantes organominerais, não biofertilizantes apenas.


Temos mais de 400 indústrias de fertilizantes organominerais, e uma boa parte delas usa resíduos e co-produtos da atividade de produção de proteína animal.


Além disso, temos o biogás que pode ser usado para fazer hidrogênio azul, que pode ser transformado em amônia, ureia, nitrato, etc. Então, a proteína animal tem uma relação muito forte com as pesquisas, e o Brasil está se tornando o líder mundial na produção de tecnologia e produtos sustentáveis.


Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura, commodities e maquinários agrícolas acesse gratuitamente a edição digital Bovinos, Grãos e Máquinas.

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