Prejuízo climático supera R$ 1 mi em 25% das transportadoras
- Fenatac Comunicação

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Portal NTC

Sete em cada dez empresas do setor já foram impactadas financeiramente, revelando uma crise operacional e financeira de dupla face
Estudo inédito da Confederação Nacional do Transporte (CNT) revela que as mudanças climáticas deixaram o campo das projeções para se tornarem uma ameaça concreta e onerosa à operação do sistema de transportes no Brasil. A Sondagem CNT de Resiliência Climática do Setor de Transporte constatou que sete em cada dez empresas (70,6%) já registraram prejuízos financeiros diretos, decorrentes de eventos climáticos extremos, nos últimos cinco anos. A granularidade dos dados é ainda mais impactante: quase um quarto dessas empresas reportou perdas superiores a R$ 1 milhão, e 9,9% enfrentaram prejuízos que ultrapassaram a marca de R$ 5 milhões.
A pesquisa, que ouviu 317 empresários de todos os modais e regiões do país entre 18 de junho e 20 de julho, evidencia uma vulnerabilidade dupla do setor. As empresas são afetadas simultaneamente pela degradação acelerada da infraestrutura física e pelo aumento significativo dos custos operacionais e logísticos necessários para mitigar os efeitos desses fenômenos.
Os impactos operacionais são maciços, atingindo 74,6% das empresas. Essas interrupções se manifestam como paralisação do fluxo de carga, necessidade de remanejamento de rotas, desabastecimento de insumos e, em situações críticas, até mesmo demissões. Do universo de empresas impactadas, 72,2% foram obrigadas a paralisar totalmente suas atividades em algum momento. Para 9% delas, essa interrupção se estendeu por um mês ou mais, cenário que compromete severamente a sustentabilidade financeira dos negócios.
O conceito de resiliência climática, no contexto do transporte, é definido pelo estudo como a capacidade da infraestrutura e das operações de resistir, adaptar-se e recuperar-se de eventos como enchentes, secas, deslizamentos, vendavais e ondas de calor, cuja frequência e intensidade têm aumentado. A diretora executiva da CNT, Fernanda Rezende, enfatiza a urgência do tema. “O estudo reforça que as mudanças climáticas já fazem parte da realidade do transporte brasileiro. Por isso, é preciso investir, com urgência, em infraestrutura resiliente, planejamento estratégico e capacidade de resposta rápida“, afirmou.
O ano de 2024 serve como um painel ilustrativo desses desafios, com exemplos em todas as regiões: 170 bloqueios em 79 rodovias no Sul; secas severas em mais de 1,3 mil municípios; incêndios florestais no Centro-Oeste; mais de 250 mil estabelecimentos sem energia no Sudeste, devido a tempestades, e uma estiagem histórica na bacia dos rios Negro e Solimões, que isolou comunidades e comprometeu o abastecimento na Amazônia.
A análise da CNT detalha os impactos específicos por modal. O transporte rodoviário, que responde por 84,5% da amostra, sofre com trincas e deformações no asfalto devido a temperaturas elevadas, enquanto chuvas intensas e enxurradas danificam pontes, túneis e pavimento. As enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024, exemplificam a magnitude do problema, com a CNT estimando a necessidade de investimentos superiores a R$ 18,9 bilhões apenas para a recuperação da malha rodoviária afetada.
No modal ferroviário, os riscos incluem deslizamentos de terra, erosões e o fenômeno da flambagem (empenamento) dos trilhos sob calor extremo, que compromete a estabilidade da via. Chuvas torrenciais podem soterrar o lastro com material de deslizamentos, elevando o risco de descarrilamento. Ondas de calor também provocam o superaquecimento de equipamentos elétricos, reduzindo a eficiência energética e podendo causar falhas na rede de alimentação.
O transporte aquaviário enfrenta sérios desafios com a estiagem, particularmente na Amazônia. A drástica redução dos níveis dos rios restringe as vias economicamente navegáveis, impactando o abastecimento de regiões que dependem quase que exclusivamente do transporte fluvial. A região hidrográfica amazônica, com aproximadamente 16.200 quilômetros de vias navegadas, representa mais de 80% da malha hidroviária nacional, dimensionando a escala do risco.
No transporte aéreo, tempestades e ciclones elevam a incidência de descargas elétricas e turbulências, resultando em atrasos e cancelamentos. Condições de baixa visibilidade, como neblina e chuva intensa, impõem maior distanciamento entre as aeronaves, afetando a regularidade e a capacidade operacional dos aeroportos.
A escalada de custos é uma consequência direta. Das empresas com prejuízos financeiros, 63,4% reportaram despesas adicionais com reparos e manutenção de ativos, e 47,9% enfrentaram custos com armazenamento extraordinário, atrasos logísticos e perda de prazos. O estudo também revela uma fragilidade financeira: dentre as empresas que precisaram tomar medidas para cobrir prejuízos, 76,9% utilizaram recursos próprios, enquanto apenas 7,7% receberam algum tipo de auxílio governamental, destacando a carência de mecanismos de suporte emergencial.
Diante desse cenário, a CNT elaborou um conjunto de propostas. Érica Marcos, gerente executiva ambiental da CNT, defende a adoção de técnicas de engenharia resiliente, com reforço de áreas críticas e utilização de materiais construtivos mais resistentes. O pacote de soluções inclui a implementação de engenharia adaptativa em infraestruturas críticas, a ampliação de redes de monitoramento meteorológico com uso inteligente de dados, a capacitação técnica de equipes, o fortalecimento da governança climática com cooperação entre os entes federados e o setor privado, e o fomento a linhas de financiamento e seguros climáticos adequados à realidade do setor.







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