CNA projeta desaceleração do agro e alerta para fragilidades em 2026
- Fenatac Comunicação
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Portal Be News
Atualizado em: 11 de dezembro de 2025 às 9:19

Endividamento maior, rentabilidade reduzida e ritmo menor da produção devem limitar o desempenho do setor após um 2025 de safra recorde
O avanço expressivo do agronegócio em 2025 não elimina a apreensão para o próximo ano. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) projeta um 2026 de desempenho mais contido e com riscos relevantes para a macroeconomia, em meio ao aumento do endividamento no campo, à pressão sobre margens e à necessidade de recompor a capacidade financeira dos produtores. Segundo a entidade, o setor entrará no novo ciclo sob alerta, depois de um ano marcado por safra recorde e forte contribuição para a desaceleração da inflação.
A CNA apresentou na terça-feira (9) o balanço de 2025 e suas projeções para 2026 em coletiva virtual. Embora o agronegócio tenha ajudado a sustentar os principais indicadores do país no último ano, a entidade avalia que parte desse impulso tende a perder força. A estimativa para o PIB do agronegócio em 2026 é de alta de 1%, muito abaixo dos 9,6% previstos para 2025. O Valor Bruto da Produção (VBP), que mede a renda gerada dentro da porteira, deve crescer 5,1% em 2026 — também distante dos 11,9% projetados para 2025.
A despeito das incertezas, o presidente da CNA, João Martins, classificou 2025 como um ciclo positivo, sobretudo diante das limitações de crédito e dos efeitos climáticos. “Foi um ano normal, na nossa avaliação, porque conseguimos fazer uma coisa que achávamos que era impossível, com restrição de crédito e problemas climáticos, batemos novo recorde de produção, terminando o ano com safra superior a 350 milhões de toneladas. Para nós foi um ano bom”, disse na abertura do evento.
Os números ilustram o papel do agronegócio na economia brasileira no período. A CNA estima que o PIB do campo alcance R$ 3,13 trilhões em 2025, e que a inflação encerre o ano em 4,4%, beneficiada pelo avanço da oferta de alimentos. Para a entidade, sem esse suporte, o país teria enfrentado risco de descumprimento da meta inflacionária, o que manteria a taxa Selic em patamar alto, hoje em 15% ao ano.
As projeções detalhadas da CNA mostram que o VBP deve alcançar R$ 1,57 trilhão em 2026, com impulso do segmento agrícola, que tende a crescer 6,6% e somar R$ 1,04 trilhão. O aumento da produção de grãos segue como principal motor. Na pecuária, o avanço será bem mais modesto: 2,2%, para R$ 528,09 bilhões, com destaque para a bovinocultura de corte, estimada em alta de 4,7%.
A entidade, porém, destaca que o desempenho de 2026 estará condicionado à capacidade de reorganização financeira dos produtores. A elevação no endividamento tem pressionado a liquidez no campo e ampliado a vulnerabilidade dos sistemas produtivos. Segundo a CNA, será decisivo construir soluções estruturais que ampliem previsibilidade, confiança e resiliência.
Otimismo com cautela
A perspectiva para as principais cadeias produtivas indica novo avanço na produção agrícola, mas com ganhos limitados na rentabilidade — elemento considerado central para a sustentabilidade do setor no próximo ano.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a safra 2025/2026 deve chegar a 354,8 milhões de toneladas, alta de 0,8% sobre a temporada anterior. A soja, que terá área plantada estimada em 49,1 milhões de hectares, pode alcançar 177,6 milhões de toneladas, crescimento de 3,6%. No milho, o movimento é inverso: queda de 2,5% na segunda safra e redução de 1,6% na soma das três colheitas, totalizando 138,8 milhões de toneladas.
O arroz deve enfrentar retração de área e de produção, estimada em 11,3 milhões de toneladas, recuo de 11,5%. O consumo estagnado e as quedas de preços em 2025 contribuíram para a decisão dos produtores de desacelerar a oferta.
Na pecuária, o cenário aponta para uma virada de ciclo. O abate de bovinos cresceu 5,6% em 2025 até o terceiro trimestre, mas o grande volume de fêmeas (49,9% do total) deve gerar menor disponibilidade de animais em 2026. A CNA projeta retração de 4,5% na produção de carne bovina no próximo ano. “Diante desse cenário, a projeção é de queda de 4,5% na produção brasileira de carne bovina em 2026, na comparação anual”, afirmou a entidade.
A menor oferta tende a influenciar as cotações. Para a CNA, a arroba do boi gordo e os animais de reposição devem registrar alta. Com isso, outras proteínas — frango, suínos e ovos — podem ampliar competitividade, especialmente em um ano que combina eleições e Copa do Mundo, momentos que historicamente afetam padrões de consumo de alimentos.



