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CNI avalia o PIB da indústria em 2022 e suas perspectivas

POR IMPRENSA | MAR 16, 2023 | NOTÍCIAS, OUTROS

Foto: Divulgação/CNI


Conversamos com Marcelo Azevedo, gerente de análise econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), sobre o PIB do setor em 2022 e as suas perspectivas para 2023.

No ano passado, o PIB da Indústria teve um crescimento de 1,6%, totalizando R$ 2 trilhões, ante uma alta de 2,9% do PIB, que somou R$ 9,9 trilhões. Abrindo o PIB do setor, a Indústria Extrativa registrou queda de -1,7%, somando R$ 462 bilhões, enquanto a Indústria de Transformação fechou praticamente estável, com uma queda de -0,3%, R$ 1,1 trilhão. O setor de Eletricidade e Gás, Água, Esgoto e Atividades de Gestão de Resíduos registrou alta de 10,1%, R$ 215 bilhões, e o setor de Construção teve um crescimento de 6,9%, R$ 271 bilhões.

Como a CNI avalia o desempenho do setor industrial no PIB de 2022?

O ano de 2022 foi muito difícil para a Indústria. O setor começou o ano vindo de uma tendência de queda muito forte, com uma série de problemas enfrentados pela Indústria, desde os antigos, como o Custo Brasil, a parte tributária e a infraestrutura, quanto os novos trazidos pela pandemia, como uma elevação muito forte dos custos. Isso prejudicou muito a atividade industrial em 2021 e início de 2022.

Podemos dizer que isso foi um pouco frustrante, já que acreditávamos numa recuperação mais rápida, mas aí veio a Guerra da Ucrânia, o que atrapalhou, novamente, o setor, fazendo com que ele andasse muito de lado no ano passado. O setor chegou a dar um respiro, mas foi perdendo força, pois a recuperação, que ia se dando com a superação do problema da normalização das atividades, foi prejudicada por conta da taxa de juros que ficou muito alta.

Com a elevação dos juros, a Indústria é prejudicada de várias formas, como o encarecimento dos investimentos do setor ou a redução da demanda, já que as pessoas precisam se endividar, muitas vezes, para adquirir produtos de maior valor como eletrodomésticos, móveis e automóveis.

Não dá para dizer que foi um ano de desempenho animador. Olhando o número da Indústria como um todo, temos até um número positivo puxado pela Construção, que teve um forte crescimento no ano passado. Contudo, essa é uma realidade diferente da Indústria de Transformação, que acabou tendo um resultado estável.

Quais são as principais demandas técnicas do setor para os governos federal, estaduais e municipais?

As demandas são muitas. Seja no mercado doméstico ou no mercado internacional, há algum tempo que estamos perdendo muito espaço devido aos problemas de competitividade da indústria brasileira.

Na esfera federal, a maior prioridade é a reforma tributária. A questão do sistema tributário não é só onerar muito a Indústria, mas criar uma série de distorções na hora de decidir onde se vai produzir, se vai produzir e como se vai contratar. Ao invés da Indústria tomar a melhor decisão possível do ponto de vista técnico, o que traria mais competitividade para o produto brasileiro, muitas vezes ela é forçada a tomar uma decisão por conta do sistema tributário, que cria uma série de distorções que oneram todo o processo produtivo. Quando falamos de indústrias, estamos falando, especialmente, de cadeias que poderiam gerar maior valor agregado por serem mais longas, só que esses problemas vão se acumulando ao longo dessas cadeias.

Na esfera estadual, além do problema do ICMS, que se multiplica por vinte e sete (vinte e seis estados e o Distrito Federal), temos questões de infraestrutura e regulação que podem ser trabalhadas. Muitas regras poderiam ser melhor pensadas para estimular a concorrência e gerar eficiência, pois a regulação, muitas vezes, não é bem conversada entre os diferentes entes da Federação (União, estados e municípios). Isso cria reservas de mercado, tanto pela ineficiência quanto pelo conflito, causando, às vezes, insegurança jurídica, que é outra questão que permeia todo o sistema federativo.

Na avaliação da CNI, existe um processo de desindustrialização no Brasil?

O problema é a perda de competitividade, o que faz com que percamos espaço aqui dentro para empresas estrangeiras que, muitas vezes, não estão num ambiente tão hostil quanto o nosso para os negócios. Muitas dessas empresas pagam menos impostos e possuem melhores infraestruturas, estruturas, sistemas de crédito e políticas industriais por detrás.

A indústria brasileira não precisa de subsídios, mas sim de política industrial, gestão, incentivo, capacidade de competição e de um ambiente de negócios que seja comparável ao de outros países. Como isso está faltando, a Indústria vai perdendo espaço, inclusive no PIB brasileiro.

Quais são as perspectivas de desempenho do setor para 2023?

Nós vemos um ano difícil. Estamos com uma taxa de juros elevada, o que afeta muito a atividade industrial, a capacidade do setor investir e a demanda, especialmente num cenário em que as famílias já vem com um endividamento muito alto. A Indústria ainda se ressente da elevação muito forte de custos que foi trazida pela pandemia, tanto do ponto de vista energético quanto do ponto de vista de insumos, o que pressiona bastante a atividade industrial.

Aliado a isso tudo, temos um cenário bastante incerto, o que traz muita cautela para os empresários. Por mais que existam discussões importantes acontecendo, como a Reforma Tributária, que já está bastante madura há algum tempo, fica esse cenário de cautela, às vezes com o adiamento de investimentos e de decisões importantes na falta de definições que estão sendo pensadas e geridas agora, especialmente por conta da própria mudança de governo e das discussões de prioridades, cortes e políticas.

Enquanto esse cenário não ficar mais claro, as decisões importantes de produção e de investimentos vão sendo adiadas. Isso faz com que o desempenho da Indústria fique um pouco mais cauteloso. Há uma tendência de andar de lado, como no final do ano passado, pelo menos enquanto não tivermos as definições que poderiam trazer um novo impulso para um crescimento um pouco maior.

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